sexta-feira, 2 de julho de 2010

Lavagem

Bom, por onde começar? Se eu começasse pelo começo, correria aqui o risco que corri durante uma fase da minha vida: o de me perder em pensamentos, em ideias, em filosofias, nos vários caminhos pelos quais a minha mente por si mesma poderia me levar. Aliás, esse começo pelo qual me recuso a começar é só mais um começo entre muitos outros possíveis; o começo convencional, porque antes dele não se sabe o que havia, se havia... Trevas. O curioso é que, apesar da indecisão, tudo na minha mente me leva ao começo que mais me importa, o que é o melhor começo da minha vida.

Eram trevas? Isso eu não posso dizer; estavam mais pra sombras. Saber, eu até sabia; parecer, eu bem que parecia; mas viver é outra conversa. Viver é uma conversão. Sabe Deus o que foi que aconteceu, e, pra ser sincero, o que me importa é que aconteceu.

O Verbo e sua ação na minha carne, o Verbo mais significativo me transformando, eu deixando de ser objeto do mal, do pecado. Tornei-me um sujeito muito mais paciente, sujeito de orações subordinadas ao Pai do Verbo: “Seja feita a Tua vontade”. Sim, um sujeito livre em consonância com o Verbo. Essa é a grande beleza: nesse período da minha vida eu sou especial, sem precisar ser o centro. Deus e sua poética... Ele é... Tão...

ELE É. Eu poderia dizer muitas coisas querendo falar de Deus, mas Ele é. Não precisa de mais nada. Intransitivo, o mesmo ontem, e hoje, e sempre. Causa, consequência, finalidade, tudo em todos (o que quer que isso queira dizer).

Sem muito que falar. Pra falar eu teria que entender, formular, expressar. Mas esse amor que me envolve, e me preenche, e transborda, esse amor excede todo entendimento. Vai entender... Eu vou é viver. Viver esse amor, mergulhar nesse rio de cabeça, sabendo que a pressão sobre mim vai aumentar quanto mais fundo eu for. Sabendo que nem a profundidade poderá me separar desse amor, amor de Deus, que eu conheço pelo Verbo que me rege, meu Senhor. Sabendo que talvez tudo fique um tanto escuro, que eu simplesmente me mova como um cego. Aí, sim, serei movido. Levado mansamente pelo rio da graça às águas tranquilas. Porque no meu Deus, ah, nele eu confio cegamente... Vai entender, se quiser.

Fé cega? É, depois disso tudo, eu posso dizer que talvez. Fé irracional? Bom, se irracional é tudo aquilo que foge à compreensão medíocre, tudo o que existe independente da falível e ínfima razão humana, então a minha fé tem muito dessa pedra no sapato da soberba humana que é o irracional (ou o irracionável). “Tá louco?” Bem que me disseram que me diriam isso. Fizeram uma lavagem em mim? Ah, isso certamente. Uma lavagem muito bem feita, na fonte de água viva; fui lavado no sangue do Cordeiro de Deus, esse sangue que tirou meus pecados e deixou minhas vestes mais brancas do que neve. E é assim que eu quero ser e ir, até o fim, eu nele, Ele em mim.

Sim, o fim. Não posso terminar por ele, porque ele ainda não chegou (falo do fim convencional, porque não sabemos o que vem depois dele): ainda é só sombra. Digo que não escolhi nenhum daqueles caminhos da minha mente, mas escolhi o Caminho da Verdade à Vida. Termino, então, pelo começo, dizendo que, na verdade, ele não foi simplesmente o melhor começo da minha vida: ele é o começo da minha verdadeira vida. Ele é.

4 comentários:

  1. João 1:5: "A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.", em outras traduções também encontramos: "e a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam." Acho que não precisa dizer mais nada. ")

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  2. Texto bem robertal, parabéns. rs
    Beijos :)

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  3. Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. João 10:10
    Gostei do Blog

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  4. Oi, gostei de sua primeira postagem. Desculpe a demora em visitá-lo.

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