sexta-feira, 13 de agosto de 2010

"Levantai-vos, vamo-nos daqui" (Parte I)

O capítulo 14 do livro de João é um daqueles textos que têm mais a dizer do que a gente pode perceber na primeira leitura. Neste capítulo temos a tão conhecida frase “Eu sou o Caminho, e a Verdade, e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”; vemos a promessa da vinda do Espírito de Deus (o Consolador); a promessa de que os três (Pai, Filho e Espírito) habitariam em nós, e outras coisas mais. Gostaria, porém, de me ater aos dois últimos versículos dessa passagem:

“Já não falarei muito convosco, porque aí vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em mim;
contudo, assim procedo para que o mundo saiba que eu amo o Pai e que faço como o Pai me ordenou. Levantai-vos, vamo-nos daqui.”

João 14.30-31. Depois de tudo o que foi dito neste capítulo, estes versículos poderiam passar sem serem notados. Depois de tudo o que se aprende à primeira vista, talvez se ache que não há "mais nada", que o importante é o "óbvio", talvez a reflexão termine precocemente. Confesso que foi o que aconteceu comigo nas primeiras vezes em que li esses versículos. Mas, como temos um capítulo com 31 versículos, o meu objetivo aqui é comentar alguma coisa sobre esse último trecho.

Como eu acho que o texto ficaria um pouco extenso, vou dividi-lo em duas partes. Nesta primeira postagem, eu vou falar um pouco sobre o versículo 30, e a principal mensagem que ele deixou pra mim; numa segunda postagem, eu falo sobre o outro versículo e tento “fechar” as ideias. Enfim, ao texto.

É preciso voltar um pouco pra entender algumas coisas. Antes de dizer isso que será analisado, Jesus havia “separado” os seus discípulos para a ceia, e falava com eles a respeito de tudo o que já dissera: resumia seus ensinamentos, continuava dando lições e deixando os seus mandamentos. Como numa última conversa, Jesus se despedia, consolando aqueles que o amavam com doces e grandes promessas. E foi nesse contexto, já sabendo do que estava prestes a acontecer, que Jesus disse: “Já não falarei muito convosco”.

Logo em seguida, ele explica: “porque lá vem o príncipe do mundo”. Uma das primeiras perguntas a se fazer: quem é o “príncipe do mundo”? Bom, esta é uma expressão que o próprio Cristo usa dois capítulos adiante: “do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado” (João 16.11). Paulo usa uma expressão parecida em Efésios 2.2: “segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar”. Essas duas passagens e uma pesquisa um pouco mais detalhada permitem concluir que o príncipe deste mundo é Satanás, o Maligno – “Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno” (1 João 5.19).

O que ele quis dizer, então, foi que havia uma missão a ser cumprida, havia um plano a ser realizado, e lá vinha o príncipe do mundo. “... e ele nada tem mim”. Essa simples oração contém muito mais do que se pode absorver numa leitura descuidada. É uma declaração que mostra toda a pureza e a santidade do Salvador, declaração que deve ficar gravada em nosso coração.

Satanás nada tem em Jesus. Nem naquele momento, em que Jesus era homem de carne, como todos nós somos, o príncipe do mundo tinha algo em Cristo: não tinha influência sobre as decisões que ele tomaria, não tinha conselho, domínio, nada. Jesus estava no mundo, mas o mundo não determinava nada: tudo que ele fazia era a vontade de quem o enviou. Isso é a santidade, e esse deve ser o nosso alvo enquanto vivermos aqui.

Ou seja, em um período de três orações, Jesus nos disse muito mais coisas do que se suporia. Disse que separações e negações deveriam ocorrer para que a missão fosse cumprida; alertou para a aproximação do inimigo das almas, coisa que, sabemos os que lutamos, vem acontecendo continuamente (1 Pedro 5.8-9); e nos deu o seu exemplo de santidade, que deve ser seguido por todos os que o amam (1 Pedro 1.15-16, referência em Levítico 11.44-45;19.2).

Devemos buscar viver no mundo essa vida que Jesus vivia, e que só pode se realizar num relacionamento extremamente profundo com Deus, pela graça de Cristo, que nos chamou. É fundamental que estejamos firmes na Palavra de Deus, para entender a vontade do Pai e cumpri-la em nossas vidas; essa é uma busca incessante, árdua e necessária, para que, de glória em glória, sejamos transformados pelo Espírito na imagem do próprio Senhor (2 Coríntios 3.18).

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